1. O que é narrativa política – e por que ela importa?
Na política, a narrativa é a história que envolve os fatos, constrói significado e conecta emocionalmente com o público. Uma boa narrativa:
Projeta uma visão de futuro (“narrativa aspiracional”).
Cria identificação — valores, emoções e símbolos.
Mobiliza e engaja — seja por apoio ou reação.
Jair Bolsonaro: a narrativa do “perseguido” e do “anti-sistema”
Jair Bolsonaro consolidou uma narrativa que mistura vitimização, resistência e outsider político. Mesmo após deixar a presidência, continua utilizando esse enredo para manter sua base mobilizada.
1. Narrativa da perseguição
Bolsonaro constantemente reforça a ideia de que está sendo alvo de perseguição política e judicial.
Exemplo: em março de 2025, diante de milhares de apoiadores em Copacabana, afirmou:
“Uma eleição sem Bolsonaro não será democrática”.
Esse tipo de discurso ativa a emoção de injustiça e fortalece a lealdade dos seus seguidores.
2. Narrativa do anti-sistema
Desde 2018, Bolsonaro se posiciona como o candidato contra “a velha política” e contra o “sistema corrompido”. Mesmo após governar, ele manteve a retórica de outsider, criando um paradoxo: ser ex-presidente e, ao mesmo tempo, continuar sendo visto como “anti-establishment”.
3. Narrativa religiosa e moral
Outro pilar é a associação com pautas religiosas e morais, sempre reforçando valores como família, fé e patriotismo. Esse enquadramento conecta fortemente com segmentos conservadores e evangélicos, gerando identificação simbólica.
4. Uso da mobilização digital
Bolsonaro e sua rede (incluindo filhos e apoiadores digitais) criaram uma estratégia de guerrilha nas redes sociais. Lives semanais no Facebook, transmissões no YouTube e conteúdo massivo no WhatsApp e Telegram reforçam sua imagem de líder acessível, “que fala direto com o povo”.
5. Força simbólica
Símbolos como a bandeira do Brasil, a camisa da seleção e frases como “Deus acima de todos” compõem uma identidade visual e emocional. Esses elementos são facilmente replicáveis em redes sociais e manifestações, facilitando engajamento.
📌 O que aprender com essa narrativa para o marketing político:
Transformar crises em oportunidades de engajamento.
Usar símbolos nacionais ou culturais para criar identificação rápida.
Reforçar valores que conectem com a base, mesmo em momentos de fragilidade.
Lula: a narrativa da resistência e da reconstrução
Luiz Inácio Lula da Silva construiu, ao longo de décadas, uma das narrativas mais consistentes da política brasileira. Sua história pessoal, marcada pela pobreza e ascensão como líder sindical, sempre foi um recurso narrativo poderoso — mas o diferencial está em como ele atualiza essa narrativa conforme o cenário político muda.
1. Narrativa da superação pessoal
Lula usa sua trajetória de retirante nordestino que virou presidente como uma metáfora da possibilidade de ascensão social no Brasil. Essa narrativa cria identificação com milhões de brasileiros das classes populares, que se veem representados em sua história.
2. Narrativa da resistência democrática
Após as condenações na Lava Jato e o período na prisão, Lula reposicionou sua imagem como vítima de perseguição judicial. Essa narrativa da resistência, que ele associa ao conceito de “injustiça”, foi fundamental para mobilizar apoiadores e reconstruir sua legitimidade.
Hoje, no terceiro mandato, ele a reforça em falas como:
“Tentaram me tirar da política, mas o povo me trouxe de volta.”
3. Narrativa da reconstrução nacional
No governo atual, Lula se apresenta como o líder que vai reconstruir o Brasil após o caos — um discurso que contrasta diretamente com a gestão de Bolsonaro. Palavras como união, reconstrução e soberania estão constantemente presentes em suas falas.
4. Narrativa da soberania e do nacionalismo
Internacionalmente, Lula busca protagonismo, posicionando-se como defensor da soberania nacional e da integração global alternativa, questionando hegemonias tradicionais. Episódios como sua reação ao “tarifaço de Trump” ou à pressão internacional sobre a Amazônia exemplificam esse enredo.
5. Símbolos e mobilização digital
O gesto e slogan “Faz o L”, nascido na eleição de 2022, tornou-se um símbolo poderoso. Ele funciona como:
Marca de pertencimento para apoiadores.
Ferramenta de engajamento nas redes (memes, hashtags, vídeos).
Provocação política para opositores, que também amplificam o símbolo ao criticá-lo.
6. A narrativa do contraste
O discurso de Lula se fortalece ao ser construído em oposição direta ao bolsonarismo. Ele posiciona sua gestão como o oposto: diálogo contra conflito, reconstrução contra destruição, soberania contra submissão. Esse contraste ajuda a manter sua base engajada e a consolidar a polarização como estratégia política.
📌 O que aprender com essa narrativa para o marketing político:
A história pessoal pode ser usada como metáfora de transformação coletiva.
Narrativas de resistência fortalecem a imagem de resiliência.
Símbolos simples e replicáveis (gestos, slogans) ampliam engajamento digital.
O contraste direto com o adversário ajuda a dar clareza à identidade política.
Nikolas Ferreira: a narrativa da juventude conservadora
Nikolas Ferreira, deputado federal por Minas Gerais, tornou-se um dos principais fenômenos de votos e engajamento digital da política brasileira. Em 2022, foi o deputado federal mais votado do país, com mais de 1,4 milhão de votos — resultado diretamente ligado à narrativa que construiu.
1. Narrativa da juventude contra o “sistema”
Nikolas se apresenta como jovem, cristão e outsider, alguém que desafia a “velha política” e a “agenda progressista” que, segundo ele, ameaça valores tradicionais. Essa narrativa conecta especialmente com públicos evangélicos, conservadores e jovens que se sentem descontentes com o status quo.
2. Narrativa da autoridade moral
Sua comunicação é centrada em pautas morais e religiosas: defesa da família, crítica à “ideologia de gênero”, combate ao aborto e valorização da fé. Nikolas se posiciona como porta-voz da moralidade, reforçando a ideia de que há uma “batalha cultural” em curso.
3. Narrativa do confronto direto
Assim como outros políticos digitais, Nikolas adota o enfrentamento como estratégia. Seus discursos em plenário e vídeos nas redes têm tom provocativo, o que gera tanto engajamento positivo de apoiadores quanto reações de opositores. Esse antagonismo fortalece sua visibilidade.
4. Mobilização digital massiva
Nikolas é um case de política influenciador:
Produz vídeos curtos, com linguagem direta, otimizados para viralizar no Instagram, TikTok e YouTube.
Usa títulos fortes e clickbait.
Atua com consistência diária, fortalecendo sua marca política como “influencer conservador”.
5. Símbolos e estilo de comunicação
O tom jovem, as roupas casuais e a estética próxima à de influenciadores digitais reforçam a narrativa de proximidade. Ele se distancia do estereótipo de político tradicional, mas, ao mesmo tempo, transmite firmeza nos valores que defende.
📌 O que aprender com a narrativa de Nikolas Ferreira no marketing político:
Personificação clara de valores: um político deve ser visto como a “voz” de uma causa ou público específico.
Estilo adaptado ao meio digital: vídeos curtos, linguagem direta e formatos virais geram conexão rápida.
A juventude como ativo narrativo: transmitir energia e futuro, sem abrir mão de posicionamento firme.
Polarização como ferramenta de alcance: confrontar adversários gera debate e amplia visibilidade.
Conclusão
A política brasileira contemporânea mostra como narrativas são mais poderosas do que simples propostas. Lula, Bolsonaro e Nikolas Ferreira ilustram três estilos distintos, mas igualmente eficazes, de transformar discurso em mobilização.
Lula reforça a narrativa da resistência e reconstrução, sustentada por sua biografia e pela ideia de soberania nacional.
Bolsonaro mantém a narrativa do perseguido e outsider, mesmo após governar, transformando crises em combustível para engajamento.
Nikolas Ferreira representa a narrativa da juventude conservadora, usando linguagem digital e estética de influenciador para conectar-se com novos públicos.
O ponto em comum entre eles é a capacidade de transformar símbolos, histórias pessoais e antagonismos em estratégias de comunicação política. Cada um, à sua maneira, mostra que narrativa não é apenas contar uma história — é criar identidade, mobilizar emoções e definir como o eleitor percebe a disputa política.
📌 Para estrategistas e profissionais de marketing político, a lição é clara: sem narrativa, não há engajamento; sem engajamento, não há vitória.
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